quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Negócios Sociais e Terceiro Setor: Entrevista com Prof. André Lara Resende

Queridos Leitores,

Estamos começando uma série de entrevistas com profissionais que têm desenvolvido estudos ou boas práticas no campo dos negócios sociais. E nosso primeiro convidado é o professor André Lara Resende.
André é Engenheiro, trabalhou em grandes empresas multinacionais como White Martins, Votorantim e Thyssenkrupp em cargos de gestão e seu espírito voluntário o fez levar metodologias de gestão avançadas de grandes empresas para organizações não governamentais e negócios sociais. É Presidente da ONG Um Pé de Biblioteca que abre bibliotecas em comunidades carentes no Brasil, também é idealizador e organizador do evento Baanko Challenge que baseado nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio busca ajudar ONGs e empreendedores sociais a elevar seu potencial. É professor no programa POS da Fundação Dom Cabral (Parceria com Organizações Sociais).

Nessa entrevista, o Professor André fala sobre a relação entre os negócios sociais e o terceiro setor.

Empresas e Negócios Sociais: Ainda não existe um consenso com relação ao conceito de negócios sociais. Como você os definiria? 

André: Existem várias frentes, mas a definição mais aceita no mercado e que concordo são de negócios que não realizam os lucros para seus acionistas e sim reinvestem com o intuito de gerar mais impacto social. Existem as posições atualmente de investidores sociais, onde são como investidores anjo que investem seu dinheiro e têm como retorno o valor investido reajustado porém sem lucro financeiro, o lucro neste caso é em impactos sociais. É uma forma nova e inovadora de pensar negócios sociais, mas que está engatinhando ainda no Brasil. Tem uma outra linha que defende a busca do lucro, ou seja, que a empresa busque tanto o lucro quanto a geração de impacto social, que o Sebrae por exemplo trabalha. Um ponto importante a se verificar é que o social tem que fazer parte do negócio da empresa e não ser somente uma doação que a empresa faz aqui ou ali, e não confundir negócios sociais com negócios de base da pirâmide, o primeiro gera impacto e leva uma comunidade a crescer, se evoluir, a segunda apenas dá acessibilidade para pessoal de baixa renda em alguma atividade (academia, internet, etc). Ambas têm seu valor mas são bem diferentes.

ENS: Qual a diferença entre negócio social e organizações sociais que desenvolvem atividades que geram recurso? 

André: No Brasil, principalmente, nos deparamos com algumas ONGs, sem fins lucrativos formalmente, mas que não vivem de doações, conseguem sobreviver com sua produção, ou seja, atingiram a autossustentabilidade. A Autossustentabilidade é o grande diferencial do que chamamos de Negócio Social hoje, enquanto ONGs buscam doações, sejam de pessoas físicas, jurídicas ou de editais do governo, o Negócio Social busca sua receita maior que os gastos. A forma como uma entidade vai se formalizar é um caso muito emblemático hoje em dia, pois se é autossustentável, se formalizar como uma empresa implica em pagar mais impostos e buscar investidores sociais, porém se se formalizar como ONG tem benefícios fiscais e busca doações. É um ponto importante a se decidir que deve levar em consideração o motivo pelo qual a empresa existe, qual a missão. No ponto de vista de escalabilidade, é bem interessante buscar a formalização como empresa já que é autossustentável, no ponto de vista de amplitude das possibilidades de apoio social o cenário se inverte. É preciso fazer um estudo bem aprofundado nessa definição antes da formalização.

ENS: Você concorda com a afirmação de que "os negócios sociais são uma inovação ao modelo tradicional do terceiro setor"? 

André: Concordo em partes, quando vemos ONGs se transformando em empresas, isso mostra sua autonomia social, ela gera por si só sem o apoio de doações ou governo, e isso é muito interessante para o desenvolvimento, mas claro que é um passo longo até percebermos isso acontecendo no nosso ecossistema. Mas no caso de negócios sociais temos o caminho inverso também, podemos ter uma empresa formalizada que se transforme em um Negócio Social, isso é o mais legal do conceito, temos um terceiro nicho que é diferente.

ENS: Agora falando sobre legislação, qual a situação das leis brasileiras no que diz respeito aos negócios sociais? 

É um produto novo que tem linhas de pensamentos diferentes e que creio que ainda vai demorar para se amadurecer, não existem leis no Brasil para isso, mas é importante citar que o governo tem formas de trabalho que apoiam muito este tipo de negócios, como o MEI (Micro Empreendedor Individual) e as microempresas que pagam menos impostos.

ENS: Qual conselho você daria para uma pessoa que pretende investir no social? 

André: Que estude bem seu negócio, debata bastante sobre como será seu modelo de negócio antes de definir se será um negócio social ou uma ONG, isso muda completamente a forma de direção da empresa e missão. Para isso criei junto com alguns parceiros um Canvas Social que mostrei na apresentação de diretores da FDC e vamos implementar em algumas ONGs do programa POS, uma forma de modelar seu negócio a fim de forçar um grupo a discutir e pensar (ou repensar) seu negócios na área social, é uma ONG ou um Negócio Social? Em muitos estudos até a missão muda, isso é bacana, pois ajudamos os negócios a seguirem caminhos mais férteis para a estrutura e linha de pensamento dos seus dirigentes.

Quer conhecer mais sobre o trabalho que o André desenvolve? Abaixo alguns links dos projetos que ele desenvolve.

www.umpedebiblioteca.org
www.baanko.com
br.linkedin.com/in/andrelararesende/

Abraços a Todos.

Cíntia Santos

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