segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O mercado é acessível para todos?






Não é novidade para ninguém que o sistema capitalista e todos os seus grandes “agentes” (bancos, indústrias, empresas, etc.) destinam seus produtos e interesses à populações específicas. Em geral, trata-se de grupos que podem pagar o preço, considerado justo pelo mercado, pelos produtos e serviços oferecidos.
 
Todavia, sabemos que o nível de desigualdade social promovido pelo próprio sistema capitalista impede que uma parte significativa da população mundial tenha condições de pagar pelos produtos existentes no mercado. Esta impossibilidade de “pagar o preço” gera uma outra, que é a de acesso aos produtos, já que, devido ao descaso motivado pela pobreza dos consumidores, muitas industrias e empresas sequer oferecem seus produtos para estas pessoas. E, vale ressaltar, estes produtos e serviços que estamos nos referindo não são artigos supérfluos, mas sim do nível básico de utilização para uma vida digna.
 
De acordo com dados publicados no Relatório sobre a situação Mundial (2011), produzido pela Divisão de Informações e Relações Externas do UNFPA, o Fundo de População das Nações Unidas, o mundo possui atualmente sete bilhões de pessoas, sendo que em menos de quatro décadas esse número chegará a dez bilhões. Destes sete bilhões, aproximadamente 925 milhões de pessoas não comem o suficiente para serem consideradas saudáveis. (ONU, 2012).
 
Em relatório produzido pela UNESCO (2013), constata-se que quase um bilhão de pessoas não têm acesso a fontes tratadas de água potável, e o número de pessoas que não têm acesso à água corrente nas cidades é maior hoje do que ao final dos anos 90. Além disso, 1,4 bilhão de pessoas não dispõem de eletricidade onde habitam, e quase um bilhão padecem de desnutrição. Como foi afirmado em 2010, no mundo há 2,6 bilhões de pessoas que não dispõem de serviços de saneamento de qualidade.
 
Obviamente que várias demandas apresentadas por esta parte da população envolvem políticas e ações governamentais, todavia, não se resume apenas a isto. O mercado que estas pessoas participam não está, na maioria das vezes, integrado ao restante da economia. Além falta de acesso a muitos serviços e produtos, quando estes existem são incompletos e de baixa qualidade, sendo que muitas vezes estas pessoas pagam mais caro em decorrência do isolamento em que vivem e a dependência de intermediários que realizam o fornecimento. Ressaltando que, na maioria casos, esta situação ocorre devido ao fato de morarem em zonas rurais, com pouco acesso aos produtos que são comumente oferecidos em mercados urbanos.
 
O que este cenário mostra é que estamos falando de pessoas que não são vistas como potenciais consumidores, logo, como aqueles que não têm o direito de usufruir de todo o desenvolvimento que a indústria e a tecnologia promovem. São indivíduos que, em pleno século XXI, ainda vivem em condições primitivas. Trata-se de uma população que é vista apenas como alvo de políticas públicas e ações governamentais, além de trabalhos filantrópicos executados por instituições sociais, recebendo sempre intervenções que visam o suprimento das necessidades básicas.
 
Como se estas pessoas necessitassem e merecessem apenas não morrer de fome.

 
 

Por Tatiane Melo


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