Não é novidade para ninguém que o sistema capitalista
e todos os seus grandes “agentes” (bancos, indústrias, empresas, etc.) destinam
seus produtos e interesses à populações específicas. Em geral, trata-se de
grupos que podem pagar o preço, considerado justo pelo mercado, pelos produtos
e serviços oferecidos.
Todavia, sabemos que o nível de desigualdade social
promovido pelo próprio sistema capitalista impede que uma parte significativa
da população mundial tenha condições de pagar pelos produtos existentes no
mercado. Esta impossibilidade de “pagar o preço” gera uma outra, que é a de
acesso aos produtos, já que, devido ao descaso motivado pela pobreza dos
consumidores, muitas industrias e empresas sequer oferecem seus produtos para
estas pessoas. E, vale ressaltar, estes produtos e serviços que estamos nos
referindo não são artigos supérfluos, mas sim do nível básico de utilização
para uma vida digna.
De acordo com dados publicados no Relatório sobre a
situação Mundial (2011), produzido
pela Divisão de Informações e Relações Externas do UNFPA, o Fundo de População
das Nações Unidas, o mundo possui atualmente sete bilhões de pessoas, sendo que
em menos de quatro décadas esse número chegará a dez bilhões. Destes sete
bilhões, aproximadamente 925 milhões de
pessoas não comem o suficiente para serem consideradas saudáveis. (ONU, 2012).
Em relatório
produzido pela UNESCO (2013), constata-se que quase um bilhão de pessoas não
têm acesso a fontes tratadas de água potável, e o número de pessoas que não têm
acesso à água corrente nas cidades é maior hoje do que ao final dos anos 90.
Além disso, 1,4 bilhão de pessoas não dispõem de eletricidade onde habitam, e
quase um bilhão padecem de desnutrição. Como foi afirmado em 2010, no mundo há
2,6 bilhões de pessoas que não dispõem de serviços de saneamento de qualidade.
Obviamente que várias
demandas apresentadas por esta parte da população envolvem políticas e ações
governamentais, todavia, não se resume apenas a isto. O mercado que estas
pessoas participam não está, na maioria das vezes, integrado ao restante da
economia. Além falta de acesso a muitos serviços e produtos, quando estes
existem são incompletos e de baixa qualidade, sendo que muitas vezes estas
pessoas pagam mais caro em decorrência do isolamento em que vivem e a
dependência de intermediários que realizam o fornecimento. Ressaltando que, na
maioria casos, esta situação ocorre devido ao fato de morarem em zonas rurais,
com pouco acesso aos produtos que são comumente oferecidos em mercados urbanos.
O que este cenário mostra é
que estamos falando de pessoas que não são vistas como potenciais consumidores,
logo, como aqueles que não têm o direito de usufruir de todo o desenvolvimento
que a indústria e a tecnologia promovem. São indivíduos que, em pleno século
XXI, ainda vivem em condições primitivas. Trata-se de uma população que é vista
apenas como alvo de políticas públicas e ações governamentais, além de
trabalhos filantrópicos executados por instituições sociais, recebendo sempre
intervenções que visam o suprimento das necessidades básicas.
Como se estas pessoas
necessitassem e merecessem apenas não morrer de fome.
Por Tatiane Melo
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